quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Boa Fotografia

Vamos dividir o saber fotográfico em três partes:

“A primeira refere-se saber operar a câmera, saber fazê-la produzir fotos nítidas, bem expostas e focalizadas. Isso é relativamente simples, não muito vasto, embora seja vasto na hora de aplicar em casos concretos.

A segunda parte refere-se à fotografia como fato estético. Então, isso significa composição, em todos os aspectos que esse nome pode significar. Composição geométrica (disposição das linhas e planos no retângulo), composição colorida, composição de planos, harmonia dos elementos, regra de terços.

A terceira parte refere-se ao assunto. Essa é a parte da poética fotográfica, ou da aparente ausência dela quando a fotografia nada traz neste sentido.

Uma fotografia perfeita tem uma poética que se realiza através da composição, e a composição se realiza através da operação da câmera, essas três instâncias são

interdependentes, isto é, cada uma influencia nas outras duas.” (Almeida, Ivan, 2008)

Com um pouco de estudo e dedicação dominamos a primeira das instâncias, mas as duas outras são infinitas.

A maioria das fotos que vemos são fotos dependentes do objeto fotogênico, o que revela pouca autonomia do ato fotográfico em si.

Esteticamente são vistosas, algumas bem legais principalmente quando ajudadas pelo objeto principal, com boas noções intuitivas de composição, mas havendo bastante espaço para afinamento disso. Poeticamente, isto é, quanto à mensagem, são muito objetos-dependentes, faltando sempre mensagens mais complexas.

As fotos são suficientemente bonitas (aliás, são de fato bonitas em sua maioria) para serem elogiadas em fóruns e flickrs, locais onde a vistosidade da fotografia é um importante fator de sucesso. Mas essa não pode ser nunca a medida de qualidade, pois o tipo de crítica nesses locais é pouco exigente nos aspectos mais sutis da fotografia.


Quanto às fotos, são sem dúvida fotos bonitas, mas eu não a penduraria na parede, pois são imagens de estética direta, sem complexidade alguma que retenha a atenção. Vemos a foto, ela nos agrada, é claro, e pronto. Não há substância para permanecermos muito tempo observando.

Começamos então a buscar uma fotografia em um nível mais avançado.

Contudo, para fazer isso, precisamos sacrificar nossa performance atual e buscarmos novos problemas, indo em direções que não nos trarão o reconhecimento com o qual estamos acostumados.

Basicamente um bom critério para as artes visuais, segundo Ivan de Almeida, é que
uma boa fotografia (ou pintura, ou gravura, ou escultura, etc ...), é de fato boa quando toda vez que eu a olho eu tenho vontade de olhar mais, quando ela me desafia e enfeitiça a cada vez que olho, mesmo que a olhe por um, dois ou dez anos. Se eu gosto da primeira vez, mas, não tenho vontade de ver de novo, isso significa que é esteticamente eficiente, mas sem profundidade. Se eu gosto durante seis meses, isso já revela qualidades maiores.

Se eu gosto por um ano, começo a tirar o chapéu para a obra, se eu gosto por cinco ou dez anos, é porque ela é boa de fato.

Então, se pensamos que estamos fazendo uma boa fotografia, passemos uma tarde vendo o livro do Salgado, o África, e então teremos uma nova dimensão do que é fotografar bem.

Certa vez eu li, que o que o mercado está cheio de pessoas que começam a cortar cabelo hoje e no dia seguinte estão trabalhando em salões de "moderninhos", que buscam assimetria. Segundo ele, é muito mais fácil fazer um corte assimétrico e moderno do que um corte tradicional, apesar dele viver de cortes modernos. Apesar disso, ele me explicou que você só consegue uma assimetria perfeita quando você sabe como fazer uma simetria perfeita, já que você acaba conhecendo os elementos que produzem a simetria.

Então, acredito que a técnica fotográfica deve seguir esses passos:

1° - Buscar excelência técnica. Aprender tudo relacionado à abordagem tradicional da fotografia. Tudo da maneira mais simétrica e convencional possível.

2° - Dominado o primeiro passo, é hora de inovar. Se especializar em um assunto. Pense em todo tipo de visão que você possa fazer do assunto, descondicionar nosso olhar. Abordagens inusitadas, ângulos que mostrem algo de forma diferente do convencional,

3º - A partir daí, penso que devemos sempre procurar nos contagiar, apaixonar, enfeitiçar, e, se possível, buscar pelo menos uma imagem que seja eternizada.

Você tem um padrão bastante rígido?

Quebre-o, isole e tente desenvolver novos projetos que façam com que busque um novo olhar. Procure sair sem a câmera.

Parece esquisito, mas é isso mesmo, pois se você tem a câmera na mão instintivamente você irá fotografar dentro do seu habitual padrão. Sem a câmera, e simulando um visor com as mãos, começamos a praticar situações e tentamos fotografá-las em nossa mente.

Talvez isso nos perturbe bastante, mas só assim iremos desenvolver algumas idéias novas e as vezes não muito claras, mas tão logo uma câmera venha a sua mão elas fluirão naturalmente.

O ideal para isso é limitarmos bastante nosso raio de ação, pois assim nossa imaginação e criação serão postas à prova num ambiente com escassos elementos.

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