quinta-feira, 23 de julho de 2009

II. Manutenção de Equipamentos (Foto Sub Paret II)

Procedimento básico para evitar alagamento.

Uma das principais causas de alagamento de equipamentos é a formação de cristais da água salgada que seca nos anéis de vedação (o-rings), principalmente de câmeras metálicas, como as Nikonos. Neste último caso ocorre, ainda, reação dos sais com o metal, formando incrustrações de estrutura química semelhante à do concreto.
Regra básica: Nunca deixe água salgada secar nos o-rings.
Relacionamos abaixo sugestão de procedimentos que permitem atender essa regra básica:
1. Mantenha o equipamento molhado, até poder lavá-lo com água doce; alguns fotógrafos o embrulham na roupa de mergulho, outros o transportam em um recipiente com água, mesmo que salgada.
2. Ao lavá-lo, procure tirar a água salgada dos o-rings onde ela penetrou sob pressão: botão de disparo, botão rebobinador, botão de foco, seletor de velocidades, botão de aberturas etc. Isso só é possível dando jatos de água nesses pontos ou agitando o equipamento, vigorosamente, dentro da água doce. Deixar de molho pouco adianta.
3. Remover os o-rings de acesso (tampa traseira, objetiva, conexão de flash etc), limpá-los e, principalmente, limpar as sedes dos mesmos. A finalidade, neste caso, não é remover sujeira, mas sim a água salgada acumulada nessas ranhuras. Já que os o-rings foram removidos, convém guardar os equipamentos sem eles, para a borracha não sofrer deformações.

Quanto ao item 2 acima, é importante saber que nunca se consegue remover completamente a água salgada dos pontos mais escondidos. Porisso, é necessário levar os equipamentos para manutenção de rotina ao menos uma vez por ano.

Atenção usuários do flash Nikonos SB-105.

Temos recebido, para reparo, uma quantidade significativa de SB-105 com o mesmo tipo de problema: plug de conexão do cabo rompido! A causa tem sido o soldamento entre esse plug e o terminal do cabo por produto de corrosão. O soldamento ocorre porque as roscas são de alumínio - sensível à água salgada - e extremamente finas.
Ao tentar desrosquear à força, o plug, que tem uma trava muito frágil, se rompe. Em alguns casos, o clipe metálico que trava o plug se solta, causando curto no circuito interno do flash: uma consequência drástica e cara!

Solução:Sempre que terminar de lavar o equipamento, SOLTE o cabo e lubrifique as roscas. Não acredite na frase "quanto menos mexer, melhor" (veja na dica anterior o porque).

Testes de performance do equipamento.

Periodicamente, antes de colocar filme na câmera, convém realizar alguns testes para verificar o desempenho do equipamento.
a) Verificação da calibração do fotômetro (regra do f16).
Se fixarmos o diafragma em f16 e tomarmos um objeto de refletividade média (cinza-padrão), iluminado sob sol intenso, o número que expressa a velocidade deve ser aproximadamente igual ao número que expressa a sensibilidade do filme. Exemplo: com filme 100 ASA, a velocidade será 100 ou, aproximadamente, 125 quando se fixa f16.
b) Verificação do controlador de tempo do obturador.
Colocar a câmera em exposição automática, prioridade diafragma, tapar a objetiva, impedindo que entre luz para o fotômetro, e disparar. Se o circuito controlador estiver operando bem, o obturador deve ficar aberto por muitos segundos (no caso da Nikonos V, o obturador fica aberto ao menos dez segundos se a bateria estiver em bom estado, o que serve, também, para verificar a bateria). Para evitar drenagem da bateria, desligar a câmera logo em seguida(o obturador deve voltar a se fechar).
c) Verificação do controlador TTL do flash.
Disparar o flash, ajustado para TTL, apontando para a objetiva da câmera; a luz deve piscar brevemente e o flash recarregar de imediato. Disparar de novo, com a objetiva tapada; o flash deve indicar descarga com potência total e demorar mais para recarregar do que no caso anterior. Diferentemente do teste do controlador de tempo do obturador, a câmera dispara com a velocidade de sincronismo.
d) Verificação da bateria da câmera.
Em algumas câmeras, como a Nikonos V, após se pressionar o botão disparador, o visor só permanece aceso por algum tempo se a bateria estiver em bom estado. Para a Nikonos, esse tempo é de 16 segundos. No caso das Sea&Sea, existe uma luz verde no visor, indicadora do estado da bateria.

Lavou, tá nova?

Existe um conceito, enganado, de que, em qualquer caso de inundação do equipamento de foto-sub, a solução é lavar imediatamente com água doce. Na verdade, as primeiras medidas podem ser muito menos radicais do que isso. Frequentemente a inundação se dá pela tampa traseira da câmera ou do flash e um simples enxugamento dessa área com cotonete ou cartão de visitas de cartolina (enfiado entre o corpo da câmera e o miolo) pode resolver completamente o problema. O importante é analisar detalhadamente como se deu a inundação e tomar, de imediato, apenas a medida necessária e suficiente. Depois - tão cedo quanto possível - enviar o equipamento para manutenção. Nós, da Azumarinho, podemos lhe prestar esse serviço.
É bem verdade que a pronta lavagem com água destilada, seguida de IMEDIATA secagem de todos os cantinhos do mecanismo interno, resolve qualquer problema; mas isso nem sempre é fácil de fazer. O problema é que a cultura que se instalou é: "lavou, tá nova!" e, assim, o feliz proprietário lava e deixa seu equipamento guardadinho até o mês ou o ano que puder levar pra revisão, quando, então, descobre que a umidade continuou fazendo seu trabalho até destruir um circuito que custa uma ou duas centenas de dólares. Na verdade a câmera fica tão deteriorada internamente, que dificilmente compensa recuperá-la. Claro que, algumas vezes, a única solução possível é a radical: lavar tudo com a melhor água que se tiver disponível. É o caso, por exemplo, de se ter a câmera completamente inundada, a ponto de ter alguns peixinhos pulando dentro dela! A melhor água a utilizar é a destilada, se estiver disponível. Se não, vai água de torneira, de bica, de poço ou o que de melhor se tiver à mão. O passo seguinte é revisar completamente a câmera o mais cedo possível. Se puder revisar no mesmo dia da inundação, achamos até que a lavagem é dispensável.
Durante o mergulho, é importante evitar que corrente elétrica passe pelo circuito inundado. Pessoalmente, temos o hábito de mergulhar com o equipamento desligado e só ligá-lo quando chegamos à profundidade de trabalho, depois de checar se não há nenhum sinal de inundação. Se vier a inundar, desligar!

Onde é mais provável inundar: no raso ou no fundo?

A resposta não é óbvia. Tomemos, como exemplo, a conexão entre o corpo e a objetiva das Nikonos, do tipo baioneta, comum a muitas câmeras e caixas. Como o aumento da pressão da água empurra a objetiva para dentro, essa conexão deve ter liberdade para se movimentar. Por isso, o flange de conexão das objetivas Nikonos possui molas que permitem esse movimento para dentro e para fora, ao mesmo tempo em que tracionam a objetiva para próximo ao corpo da câmera. À medida que se aprofunda, durante o mergulho, a objetiva fica cada vez mais pressionada contra o corpo. A dez metros de profundidade, por exemplo, a objetiva de 35 mm fica submetida a uma força equivalente a 30 quilos, sendo difícil puxá-la para fora (caso alguém, sofrendo de narcose precoce por nitrogênio, queira tentar essa loucura). Considerando que na parte rasa do mergulho a força sobre a objetiva é muito pequena, as objetivas ficam mais sujeitas a se deslocar para fora e, consequentemente, a perder vedação. Isso ocorre principalmente com as objetivas longas (como as 15 mm, 20 mm ou 80 mm), que possuem selagem mais rasa para o anel de vedação. Além disso, por serem mais pesadas e mais longas, tornam-se alvos fáceis de batidas e choques durante o mergulho ou, ainda pior, podem ser agarradas pela equipe de apoio que nos aguarda no barco para recolher nosso equipamento.
Por similaridade, todo dispositivo que veda por compressão, tem maior probabilidade de vazar na parte rasa do mergulho. Em contrapartida, outras conexões, como a porta dianteira de algumas caixas estanques, são do tipo rosqueado. Ao contrário da baioneta, a rosca não se movimenta com o aumento da pressão. A compressão que for dada sobre o o-ring antes de mergulhar permanecerá a mesma em qualquer profundidade. Ao contrário do caso anterior, uma rosca mal apertada falha a profundidades maiores. Por isso, é muito importante rosqueá-las completamente na fase de preparação do equipamento.

Teste de flash através do cabo de sincronização

Quando o flash deixa de disparar, frequentemente vem a pergunta: Onde está o problema, no flash, na câmera ou no cabo de sincronização entre ambos?
Para localizar a origem desse tipo de problema, podem-se adotar os seguintes passos: desconectar o cabo no soquete da câmera e curto-circuitar (com uma tesoura ou pinça metálica) os contatos de disparo no cabo; se disparar, o problema é na câmera; se não, desconectar o cabo no soquete do flash e curto-circuitar os contatos de disparo no flash; se disparar, o problema é no cabo; se não, o problema está no flash.
Conectores de cabosNa figura ao lado, exemplificamos os contatos de disparo que devem ser curto-circuitados no soquete do cabo para a câmera Nikonos V, no soquete do flash Nikonos SB-105, no soquete do flash Ikelite e no soquete do cabo para a câmera Sea&Sea. Em todos os casos, devem-se interligar os contatos de números 2 e 3.
Para outros modelos de flashes, deve-se verificar previamente quais são os contatos de disparo equivalentes. O medidor de continuidade pode ser usado para descobrir quais são os contatos de disparo do lado do flash, desde que se conheçam os contatos de disparo do lado da câmera, já que permite verificar quais os contatos numa extremidade do cabo que correspondem aos da outra extremidade.
ATENÇÃO: Muito cuidado para não colocar em curto os contatos não numerados da figura, que comandam o controle TTL, o que pode danificar o respectivo circuito.

Manutenção Periódica de Equipamentos

Nos equipamentos de foto-sub, existem alguns o-rings inacessíveis ao usuário, tais como os que vedam os vários eixos de comando. É o caso, por exemplo, do eixo de controle de diafragmas de uma caixa estanque. No caso da Nikonos V, existem dois o-rings no comando de sensibilidade do filme, três no comando de velocidade de obturação e de avanço do filme, um no disparador e um no fecho da tampa traseira, além de um especial no flange de fixação de objetivas. Para atingi-los, é preciso desmontar boa parte do equipamento. Embora esses pontos possuam sistemas de vedação reforçados e utilizem graxas especiais e mais duráveis, ainda assim precisam de manutenção periódica uma vez por ano ou mais frequentemente, se o equipamento é usado com grande intensidade. As objetivas Nikonos, cujos eixos de comando possuem o-rings muito pequenos, suportam períodos mais longos sem manutenção. Exceção é a objetiva 15 mm, que, por possuir dois o-rings grandes na janela de indicação, precisa de manutenção anual.
Os flashes, que possuem o-rings instalados em sedes de plástico, menos sujeitas a corrosão, podem passar longos períodos até que apresentem sinais de necessidade de manutenção. Tais sinais podem ser botões rotativos de comando que se apresentam "duros" ou reagem como se tivessem molas, tendendo a voltar após terem sido ligeiramente girados, fruto de incrustrações que prendem o o-ring.
Na Nikonos V, o sinal mais precoce costuma ser o botão disparador que se recusa a voltar depois de apertado. Não faz sentido esperar que esses sinais apareçam para fazer a manutenção periódica, já que isso coloca em risco a vedação do equipamento. Aqui, na Azumarinho, nós prestamos esse serviço há cerca de dez anos. A manutenção preventiva de uma Nikonos V, por exemplo, custa cerca de dez porcento do valor da câmera, enquanto que o custo de reparo de uma câmera completamente inundada pode chegar quase a seu valor total (caso em que desaconselhamos o reparo).

Cuidado ao despachar seu equipamento de foto-sub

Temos recebido, para reparos, câmeras Nikonos V que sofreram sérios danos porque foram despachadas, por via aérea, de forma inadequada. Para entender a razão dos danos, é preciso lembrar que os equipamentos de foto-sub (todos, não apenas as Nikonos V) são projetados para sofrer pressão de fora para dentro, mas não de dentro para fora. Assim, por exemplo, a tampa traseira da Nikonos V assenta fortemente contra o resto do corpo quando sofre pressão externa. Para resistir a uma pressão de dentro para fora, entretanto, a tampa conta apenas com a pequena trava do fecho, que é muito frágil e projetada apenas para resistir à expansão do o-ring.
Quando se despacha uma câmera para o compartimento de cargas de um avião (eventualmente, até mesmo na cabine de passageiros), com todos os o-rings instalados, fica retida, dentro da mesma, a pressão atmosférica. Entretanto, no lado externo, a pressão é sub-atmosférica, estabelecendo-se um esforço de dentro para fora. Numa das Nikonos V que recebemos, esse esforço foi tão grande que, além de romper a trava da tampa, as palhetas do obturador foram sugadas para fora da câmera. Um reparo bastante caro!
Existe um conceito de que as câmeras devem ser mantidas com o-rings reservas, para protegê-las da umidade ambiente. Não vemos razão para isso, já que as câmeras convencionais, dotadas de circuitos eletrônicos muito mais complexos, não possuem sistemas de vedação. Outros acham que os o-rings são necessários para evitar atrito entre as partes de vedação do equipamento (câmera ou caixa estanque). Durante mais de 20 anos armazenamos e transportamos nossos equipamentos sem o-rings. Da mesma mesma forma sabemos de muitos outros que também o fazem, sem nenhum relato conhecido de danos nas sedes de vedação.
Em resumo, nossa recomendação é armazenar e, principalmente, transportar os equipamentos de foto-sub sem os o-rings.

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